O Boletim de Inteligência de Mercado da Abrapa acompanha a Missão Vendedores no Sudeste asiático. Um evento para 60 clientes e agentes de algodão na maior cidade do Vietnã, Ho Chi Minh City, encerrou a missão ao país asiático nesta sexta-feira, 25 de novembro. Presidente da Agopa, Carlos Alberto Moresco participa da comitiva.
O Vietnã e uma potência industrial emergente. O país é o segundo maior exportador global de têxteis (US$ 39 Bi em exportações), somente atrás da China. O Vietnã também é o terceiro maior importador global de algodão, com um volume anual próximo de 1,5 milhão de toneladas.
O país também é o mercado importador de algodão que mais cresce no mundo, com crescimento anual médio de importação de algodão de 11,5% nos últimos 10 anos. Este crescimento se deve à abertura do país ao investimento estrangeiro que se iniciou no final dos anos 1980 e hoje representa a maioria do investimento industrial no país.
A participação estatal no setor, que era 100% no início da industrialização do país, vem diminuindo a cada ano. A estatal Vinatex, que tem participação acionária em mais de 120 empresas em todos os elos da cadeia têxtil, fatura US$ 4 bi e representa em torno de 10% da capacidade de fiação instalada no país. De acordo com estatísticas do país, cerca de 60% das fiações são de capital estrangeiro (maioria Chinesa e Coreana), que segue agressivo na atração de novas indústrias.
De acordo com a principal entidade do setor (VITAS), existem mais de 16 mil empresas na área têxtil no país, que geram em torno de 3 milhões de empregos. O setor incentiva os acordos de livre comércio (já tem 15 assinados) e tem esperança de assinar um com o Mercosul em breve.
A missão ao Vietnã, composta por produtores e tradings de algodão, esteve em Hanói e Ho Chi Min City e envolveu a realização de dois grandes eventos com clientes, visitas a fiações, reuniões com empresários, dirigentes da estatal do setor têxtil (Vinatex), associações empresariais, embaixador do Brasil em Hanói, Centro de Tecnologia Têxtil e Ministério de Indústria e Comércio do país.
Cenário
A indústria têxtil do país passa por um momento delicado. Fiações operam em média com 40% de capacidade ociosa, sendo que algumas industrias focadas na exportação de fios para a China, no norte do país encontram-se fechadas devido à ausência de demanda e margens negativas.
O setor de fiações começou a ser afetado no primeiro semestre e o setor de confecções só começou a sentir os impactos da desaceleração nos últimos dois meses. Guerra, inflação e desaceleração econômica entre os fatores citados para a redução da demanda vinda dos seus principais mercados de produtos têxteis: EUA e Europa.
Segundo o governo local, no acumulado do ano, as exportações de têxteis do país ainda são maiores que no mesmo período do ano passado, mas alertam que a desaceleração começou a ser sentida somente neste bimestre. Há, entretanto uma confiança que no primeiro semestre de 2023 a economia irá se recuperar e a indústria do país voltará a crescer em ritmo acelerado.
A confiança no país continua grande, uma vez que as indústrias estão capitalizadas com lucros recentes e continuam investindo. Além disso o país continua atraindo investimentos industriais estrangeiros e o desenvolvimento de novas áreas industriais no país segue em ritmo acelerado, apesar do momento delicado. Política de atração de investimentos do país, mão de obra barata, moeda desvalorizada e deslocamento de industrias da China são os fatores que devem continuar impulsionando o crescimento do país.
O Brasil foi recentemente ultrapassado pela Austrália nas exportações de algodão ao Vietnã. Com o boicote da China ao algodão da Austrália, o produto da Oceania tem sido oferecido a custos menores que o brasileiro e com menor prazo de entrega.
Apesar do Brasil já ser a terceira maior origem de algodão importado pelo país, ainda há muito desconhecimento sobre o produto brasileiro e seus atributos. A grande maioria das lideranças do setor que participou a agenda da missão não sabiam, por exemplo, que o Brasil faz análise de HVI fardo e disponibiliza os dados para checagem no site da Abrapa.
As principais reclamações sobre o algodão do Brasil se referem a preço e tempo de entrega (transit time). Reconhecem o enorme ganho de qualidade do algodão do Brasil nos últimos 10 anos e elogiam a qualidade. Alguns industriais relacionam o algodão do Brasil com caramelizarão/pegajosidade. Por fim, foi solicitado que o algodão do Brasil seja enfardado com fitas plásticas e não arames de aço, devido ao perigo de incêndios.
A Missão Vendedores passa ainda por Singapura e Indonésia.