Com a recente conquista da acreditação ISO 17025, o Laboratório de Classificação Visual e Tecnológica da Fibra de Algodão da Agopa é o único do gênero comercial ligado à classificação intrínseca da fibra de algodão (HVI) acreditado na América Latina e inaugura uma nova fase na qualidade das análises de fibra no Brasil. Mas o que isso significa? Qual a importância de uma certificação como essa para o cenário nacional?
Oficialmente, o Laboratório da Agopa está acreditado pela Coordenação Geral de Acreditação do Inmetro para Ensaios ABNT NBR ISO/IEC 17025:2017, sob número CRL 1679. Para o gestor do Programa SBRHVI da Abrapa, Edson Mizoguchi, a acreditação atesta a competência técnica do laboratório da Agopa e reforça o interesse do Brasil na busca de garantir credibilidade nos ensaios realizados pelos laboratórios do país.
O gestor acredita que, para o programa SBRHVI, a implementação de um sistema de gestão de qualidade nos laboratórios brasileiros vai garantir uma padronização no nível internacional. O programa SBRHVI tem a qualidade como foco, padronizando a classificação instrumental do algodão e informatizando o acesso aos dados de classificação, equiparando os processos brasileiros aos dos maiores produtores mundiais de algodão.
“Ganham as indústrias nacionais e internacionais, comerciantes e tradings que comercializam o algodão brasileiro e, é claro, ganha o produtor brasileiro!”, comemora.
Referência no Brasil
José Antônio Sestren é consultor de gestão e conhece bem todo o processo de análise de fibra. Para ele, este é um marco para a Associação e para o algodão brasileiro. Sestren destaca que a Agopa se torna referência na área, não só na classificação e HVI mas também na qualificação dos classificadores de algodão.
“O fato de a Agopa estar certificada mostra como os trabalhos no Laboratório de classificação e HVI estão sendo levados a sério. Esta certificação garante aos clientes um nível de qualidade nos resultados das análises e consequente credibilidade para o produtor nas vendas”, diz.
Produção assegurada
Pesquisador da Embrapa Algodão, João Paulo Saraiva acompanha todo o processo de implementação da ISO desde 2021. Uma vantagem é a acreditação ser feita por uma instituição independente, que não tem nada a ganhar ou perder na concessão do título. Para João Paulo, o ganho de confiabilidade colabora para reafirmar a reputação que o Laboratório possui frente aos produtores e toda a cadeia produtiva da cotonicultura.
“Quando o comprador adquirir o produto testado pela Agopa, ele não vai ter surpresas. Os índices que ele recebe na planilha serão respeitados. Assim, o comprador pode fazer as misturas para produzir o fio que precisa sem prejuízo para o processo” afirma.
Conforme o pesquisador, isso é uma corrida e cria um diferencial para os produtores que analisam sua pluma na Agopa. A novidade também pode incentivar outros laboratórios a buscar a acreditação, o que beneficiará todo o algodão produzido no Brasil.
Confiabilidade é a palavra-chave
Adelaide Cristina Rebouças é a auditora interna que atuou junto à Agopa no atendimento às normas e padrões da ISO 17025. Para ela, a palavra-chave dessa acreditação é confiabilidade. “Ao ser acreditado, o laboratório demonstra formalmente que implantou requisitos técnicos e de gestão, passou por um rigoroso processo de avaliação e fornece resultados tecnicamente válidos”, ressalta.
Ainda conforme Adelaide, os ensaios representam parte fundamental no processo produtivo do algodão e a confiança que uma acreditação traz reflete muito positivamente no produto final. Para o estado de Goiás isso é muito importante, continua, uma vez que significa romper barreiras técnicas, oferecendo um serviço com segurança ao setor produtivo.
Pioneirismo pode mudar a realidade da cotonicultura no Brasil
Goiás possui atualmente 35 laboratórios de ensaio acreditados em diversos segmentos, o que é um número bastante pequeno considerando o universo de laboratórios no estado. No segmento de pluma de algodão (prestação de serviços comerciais), o laboratório da Agopa é o primeiro do Brasil a ser acreditado.
Para o gerente do Laboratório, Rhudson Assolari, todo o processo, as adequações normativas e de gestão foram um aprendizado decisivo para toda a equipe. “Implantamos um Sistema de Gestão da Qualidade muito eficiente, com protocolos objetivos que fazem com que todo o laboratório funcione em sincronia, desde a recepção de amostras à comunicação dos resultados. A tranquilidade do produtor, dos traders e da indústria de fiação é maior ao saber que não haverá falhas nas análises, o que reflete em ganhos em cada etapa da cadeia produtiva”, considera.
Diretor executivo da Agopa, Dulcimar Pessatto Filho considera que a certificação dos laboratórios de análise de pluma é um caminho sem volta. “As unidades que quiserem sobreviver no mercado terão que buscar essa certificação. As exigências internacionais por acuracidade nas análises são cada vez maiores. Quem não se adequar a essa nova realidade, terá dificuldades em se estabelecer”, avalia.
Dulcimar considera ainda que os mais de três anos de preparação do Laboratório para chegar à certificação foram de intensas transformações. “A criação do Sistema de Gestão da Qualidade, a reorganização administrativa e os investimentos aplicados no Laboratório ocorreram de forma orientada para que não houvesse falhas ao longo do processo. Mais do que isso, criamos uma metodologia de trabalho mais eficiente e um ambiente harmônico”, frisa.
Presidente da Agopa, Carlos Alberto Moresco considera a conquista da ISO 17025 um marco para todo o Brasil. A nova acreditação, diz, vem para instituir um padrão de excelência para as análises laboratoriais de pluma em todo o país. “Outras associações estaduais estão se estruturando para conquistar a ISO. No futuro, quem não tiver este nível de qualidade nas análises terá dificuldades para se estabelecer no mercado”, analisa.
A avaliação do presidente da Agopa ocorre a partir do entendimento acerca das exigências dos grandes mercados compradores de algodão. As indústrias têxteis precisam saber com exatidão as características intrínsecas do algodão que adquirem para que possam fazer suas composições fabris. Isso representa uma enorme economia para essas empresas que compram toneladas de pluma, com reflexos no preço e na qualidade do produto final que chega ao consumidor. “É impressionante ver que um avanço nas análises laboratoriais tem resultados em toda a cadeia produtiva, até chegar nas roupas e demais produtos que usamos”, finaliza.