Com um crescimento de 20,7% ante a safra anterior, a produção brasileira de algodão deve chegar a dois milhões de toneladas de pluma em 2017/2018. A expectativa oficial do setor foi divulgada na 50ª Reunião Ordinária da Câmara Setorial do Algodão e Derivados, realizada na quarta-feira (28/03), na sede do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em Brasília. O incremento de 337 mil toneladas acompanha a expansão da área plantada, 25,6% superior ao ciclo 2016/2017, alcançando 1,174 milhão de hectares. A produtividade média nas lavouras do país deverá ser de 1,66 mil quilos por hectare, cerca de 4% menor que na safra passada. Entre os dez estados produtores, os três maiores são o Mato Grosso, que plantou 783 mil hectares, seguido de Bahia, com 263,7 mil hectares, e Goiás, cuja área plantada é de 33 mil hectares.
A expansão nas lavouras, segundo o presidente da Câmara Setorial, Arlindo de Azevedo Moura, que também preside a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), é o resultado de uma convergência de fatores como preços favoráveis da commodity, redução dos estoques chineses e a crescente utilização do algodão nas matrizes produtivas, na rotação de cultura.
“Preços favoráveis sempre animam o produtor a plantar mais. A valorização da pluma é o resultado de três anos consecutivos de consumo global superior à produção, o que provocou a queda nos estoques no mundo, inclusive na China, cujas reservas eram enormes e hoje caíram bastante, fazendo com que ela tivesse que voltar a comprar algodão. O estoque da China não é de boa qualidade. É muito antigo. Por isso, os chineses têm de importar algodão bom e novo para fazer o blend para a indústria”, explica.
A produtividade ligeiramente menor já era esperada pela Abrapa e pelos demais membros da câmara, uma vez que a safra parâmetro, 2016/2017, foi considerada excepcional. “Nós imaginávamos que 2017/2018 não seria uma safra tão boa quanto a passada, quando o Brasil colheu 1,74 mil quilos de pluma por hectare. Mas, no decorrer do ciclo, o clima tem se confirmado bom para o algodão. As chuvas recorrentes têm ajudado bastante. Produtividade 1,66 mil quilos por hectare é uma média muito boa”, diz.
Moura afirma que, este ano, em torno de 700 mil toneladas de algodão ficarão no mercado interno e o restante será exportado para os principais destinos do produto, que são países da Ásia, principalmente, Vietnã, Indonésia, Bangladesh, Turquia, China, Paquistão e Coréia do Sul.
Também membro e presente à reunião, o presidente da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), Henrique Snitcovski, atualizou os dados sobre os embarques da pluma na safra 2016/2017. “Até 25 de março, o Brasil já havia exportado 854 mil toneladas de algodão. Os embarques devem finalizar em junho e a expectativa é de que cheguem a 940 mil de toneladas, um número substancialmente maior que o da passada, de 600 mil toneladas, como consequência de uma safra maior”, prevê.
Snitcovski explica que o aumento das exportações também está relacionado ao desempenho da safra americana. “Os EUA, que são o maior player de algodão do mundo, apesar de ter tido aumento de produção, estão enfrentando problemas de qualidade, relacionados ao micronaire (espessura/maturidade), abaixo de 3, que é considerado muito baixo, abrindo mais espaço para o algodão brasileiro”, analisa.
Setor aquecido – Abit prevê crescimento e geração de emprego
De acordo com o presidente da Associação Nacional da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit), Fernando Pimentel, os números apurados primeiro bimestre de 2018 são positivos, assim como as projeções para o restante do ano. “Nossa expectativa é de um crescimento da ordem de 3,5% para o segmento de confecção e de 4 a 4,1% para a indústria têxtil, com geração de 16 a 20 mil postos formais de trabalho”, afirma. Pimentel diz que o aumento das importações irregulares e/ou desleais preocupa a indústria.
“Não temos uma visão autárquica do país, mas algumas situações nos afligem, como a entrada de produtos oriundos de países que concorrem desigualmente conosco em termos de compliance, as que apresentam características de irregularidades no processo, e os contrabandos. Outra questão no radar da indústria, segundo Pimentel, é a agenda de competitividade do Brasil, ligada às políticas públicas e industriais”, elenca. O presidente da Abit afirma que, nesse período, o setor tem investido na modernização das suas plantas industrias para conquistar ganhos em produtividade e qualidade.
Sobre a recessão que a economia brasileira amargou nos últimos anos, com efeitos diretos sobre a indústria têxtil e de confecções, Pimentel acredita, que, aparentemente, o pior já passou. “Mas não dá para falar ainda que estamos entrando num ciclo de desenvolvimento sustentável, até que se façam todas as reformas necessárias. Há muito o que fazer para o país entrar num novo ciclo, sobretudo reforma da Previdência e tributária, sob pena de o país ficar novamente com crescimento medíocre, de 1 a 2%”, concluiu.
Imprensa Abrapa